Gamay é a uva ícone de Beaujolais

Encontrada em outros pontos da França e da Europa, a Gamay é a cepa tinta de Beaujolais mais conhecida pelo sabor de cereja, pela coloração viva arroxeada e pelo estilo com baixo tanino. Considerada uma uva de leve intensidade, fácil e agradável de beber resultado do puro frescor e fruta cítrica presentes. Provavelmente surgiu de uma mutação da Pinot Noir e pode ser conhecida também como Gamay Noir à Jus Blanc, Bourguignon e Liverdin. 

Características principais

A origem precisa desta casta não é conhecida, mas foi sem dúvida anterior ao século XIII e, provavelmente, na região de Beaujolais, na França. Embora esta variedade de uva não produza excelentes vinhos, ela gera um estilo leve de tinto, que é apreciado em todo o mundo.  

A uva Gamay gosta de solo granítico e calcário. É a única uva usada na produção do Beaujolais tinto, embora também tenha sido cultivada no Vale do Loire, particularmente em Touraine, em alguns vinhedos no centro da França e na Suíça.  

O vinho é leve, rico em aromas primários e apresenta sabor de fruta vermelha madura. Tem frequentemente pouco tanino e bastante acidez. Esta variedade de uva tornou-se conhecida no final do século XX devido à popularidade do “Beaujolais Nouveau” (conceito explicado em seguida). Já os crus de Beaujolais, saiba mais sobre essa denominação utilizada na Borgonha em outro artigo do blog, Borgonha e seus vinhos elegantes, feitos da maneira tradicional dão mais destaque ao floral da uva.  

Região de Beaujolais é o provável local de origem da Gamay

Principal terroir

Com 13.500 ha, é a maior e mais meridional área vitivinícola da Borgonha. Beaujolais estende-se do sul de Mâcon aos subúrbios de Lyon. No entanto, tem pouco em comum com o resto da Borgonha, além da rede de negócios e da proximidade geográfica. O solo de pedra calcária, embora dominante em outras partes, dá lugar ao granito aluvial e às rochas ígneas de uma cadeia montanhosa que separa os rios Loire, a oeste, do Saône. Provavelmente são solos oriundos dos chamados períodos terciários e quaternários, que permitem uma expressão total da fruta.

A uva Gamay domina em Beaujolais. A região era frequentemente considerada uma denominação que produzia apenas vinhos sem tanta expressão, projetados para acompanhar petiscos e lanches nos bares de Lyon. Mas, atualmente, também desenvolve vinhos de alta qualidade, em particular os 10 Beaujolais crus, capazes de envelhecer vários anos.

Mesmo assim, o adjetivo mais utilizado pelos produtores é agradável, que costuma se referir a vinhos refrescantes e despretensiosos com sabores de uva fresca. A produção de branco é em pequena escala, mas oferece boa qualidade. Gamay raramente é cultivada em outros lugares, exceto no Vale do Loire. É capaz de produzir vinhos deliciosos, frescos e leves. Além disso, os melhores vinhos Beaujolais podem vir, com o envelhecimento, a se parecerem muito com seus vizinhos da Côte d’Or. 

Videira plantada em estilo espaldeira em Beaujolais

Maceração carbônica

A maior diferença entre a maceração carbônica e a clássica é o uso de uvas não esmagadas. Bastante difundida em Beaujolais, esta técnica coloca bagas inteiras em um recipiente fechado, que é preenchido com dióxido de carbono. Sob o efeito desse gás, ocorre um fenômeno peculiar denominado “fermentação intracelular”. Com isso leva, dentro de cada baga, à formação de uma pequena quantidade de álcool e degradação do ácido málico. 

Esta fermentação na baga é acompanhada pela produção de sabores primários vibrantes. Um curto período de fermentação de quatro a seis dias dá um vinho muito floral, com uma suavidade imediata. Posteriormente, o dióxido de carbono é liberado e a fermentação continua normalmente. A maceração carbônica está bem estabelecida para vinhos produzidos a partir de uvas Gamay e vendidos jovens, como muitos Beaujolais. O método é agora também amplamente aplicado a certas variedades, onde uma porção é misturada com vinhos feitos com maceração tradicional para produzir um resultado mais macio, especialmente nas regiões mediterrâneas.  

Colheita de maneira artesanal preserva as uvas em cachos inteiros

AOCs de Beaujolais

As três denominações produziram em 2020, segundo dados do Inter Beaujolais, 84 milhões de garrafas, sendo 94,5% de vinhos tintos. Incluindo AOC Beaujolais, AOC Beaujolais Villages e as AOCs de 10 crus: Juliénas, St-Amour, Chénas, Moulin-à-Vent, Fleurie, Chiroubles, Morgon, Régnié, Brouilly e Côte de Brouilly.

O estilo do vinho desta região é naturalmente voltado para momentos descontraídos, por ser mais fresco e poder harmonizar com comidas mais leves é uma excelente escolha para os encontros com familiares e amigos. Até foi criado um termo nos anos de 1960: o “Beaujolais Nouveau”. Trata-se de um vinho jovem vinificado e engarrafado em menor tempo que os demais, pois precisava preservar o sabor fresco da fruta o quanto possível. 

Pode ser considerado como o maior sucesso mundial de marketing dos últimos cinquenta anos. A invenção era bebida contemporaneamente no mundo inteiro no mesmo dia e na mesma hora, apenas poucos dias após a colheita da uva. A data escolhida foi a terceira quinta-feira de novembro. Hoje, acontece o Beaujolais Days, em que as pessoas podem desfrutar de várias atividades, de gastronomia a esportes, durante cinco dias na região.

Como vários Beaujolais também utiliza-se da maceração carbônica, no entanto, após alguns dias macerando, as uvas Gamay são prensadas e fermentadas em cubas, sem as peles, para diminuir o tanino. Assim, realça-se a cor e o sabor sem precisar lidar com a questão da adstringência, afinal o vinho tem que estar pronto para o consumo poucas semanas após a colheita para valer o investimento do produtor. 

Curiosidade

Gamay, a principal uva de Beaujolais, foi proibida na Borgonha. Em 1395, Filipe II, o Audaz, Duque da Borgonha, emitiu um comunicado banindo-a com o consequente desenraizamento. Esta ordem – explicação do motivo absurdo em destaque – dificilmente foi cumprida, especialmente porque a Gamay pode fazer deliciosos vinhos quando sua produção é controlada, como em Beaujolais. 

“A Gamay é uma videira péssima e imunda, pois a planta produz em grande abundância um tipo de vinho que é muito prejudicial aos seres humanos porque está cheia de amargura.”

Filipe II, o Audaz, Duque de Borgonha (Reinado: 1363-1404)

Sugestão Wine Lovers

A Wine Lovers, com o passar dos anos vem aumentando o seu portfólio para oferecer os melhores vinhos para seus clientes. Assim, trouxe da vinícola Les Vignerons de Mancey, localizada na Borgonha, em La Côte Mâconnaise, um vinho da uva Gamay, com todas essas características. Quer conhecer?

O vinho francês Mâcon Rouge, possui 100% Gamay. As uvas foram resfriadas em tanques de aço inox e mantidas em estado de pré-fermentação. Alguns dos aromas e cores são corrigidos durante este período. A fermentação dura de 5 a 7 dias dependendo da constituição da matéria-prima. Durante este tempo, os tanques estão sujeitos a cuidados e várias operações destinadas a promover o intercâmbio entre a matéria sólida (polpa) e o elemento líquido (mosto). Após uma prensagem leve, o vinho é colocado em tanques de aço inox onde será envelhecido. Ao misturar uvas de diferentes encostas multiplica-se as nuances aromáticas e promove a complexidade dos sabores. O nariz é sempre muito fresco com aromas de frutos vermelhos (morango, framboesa, groselha) e algumas notas minerais e picantes. Na boca é vivo, leve e adocicado. Acompanha muito bem caril de porco, quiche Lorraine e massa. 

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