A cepa tinta autóctone mais cultivada e importante da Itália é a sangiovese que pode produzir vinhos de nível mundial, de taninos suaves e granulados, de meio a muito encorpados, com sabores de cereja amarga, ervas e baunilha, entre eles, o icônico vinho Brunello di Montalcino, um dos mais famosos italianos. Ele é o único vinho com Determinação de Origem Controlada e Garantida (DOCG) toscano 100% sangiovese e o que mais precisa envelhecer: quatro anos obrigatórios, sendo pelo menos dois anos em barris de carvalho e quatro meses em garrafa e se for Riserva até seis meses em garrafa.
Uva Sangiovese
Essa uva domina praticamente toda a região central da Itália, mas é grandiosa na Toscana, nas regiões de Chianti, Brunello de Montalcino e Vino Nobile di Montepulciano. Ela produz vinhos de corpo médio a encorpado, secos, levemente picantes, com aromas e sabores de cereja amarga, especiarias, tabaco e ervas. Muito usada em associação com a cabernet sauvignon, os vinhos ganham a demoninação de “Super Toscanos”. Veja mais sobre o assunto em outro artigo do blog aqui. Como curiosidade: Sangiovese em Latim é Sanguis Jovis, ou seja, Sangue de Júpiter. Uma uva poderosa, rústica, versátil, elegante e cheia de complexidade aromática!
As Colinas Centrais foram o pivô do resnascimento do vinho nos anos de 1980, quando vinícolas modernas estabeleceram o padrão para toda a Itália. Atualmente, formam o distrito de maior prestígio na Toscana com as clássicas DOCGs que se utilizam da uva sangiovese: Brunello di Montalcino, Carmignano, Chianti e Vino Nobile di Montepulciano. Além de inúmeros produtores particulares de supertoscanos.
São cinco os pigmentos comuns presentes em toda uva chamados de antocianinas – delfinidina, cianidina, petunidina, peonidina e a malvidina – e a proporção de cada um deles é diferente dependendo da casta. Nesse caso, a uva sangiovese tem seus pigmentos não tão escuros e profundos devido a mais compostos genéticos de cianidina e peonidina, que oxidam mais facilmente dando uma cor mais alaranjada e menos escura. Por isso, o vinho tem essa tom de rubi intenso, mas não tão forte.
DOCG
Brunello di Montalcino é uma denominação toscana criada em 1982 originária de uma seleção de clones da sangiovese grosso. Um fazendeiro do século XIX, chamado Ferruccio Biondi Santi, selecionou as melhores mudas de suas terras e as propagou até criar um clone da cepa brunello (nome local da uva sangiovese) que quer dizer acastanhado, isso porque a casca da uva tem um pouco mais da cor marrom, capaz de fazer vinhos bem encorpados para longo envelhecimento. Você pode guardar o vinho no mínimo por 10 anos, na média por 30 anos e até no máximo 50 anos.
Desde a primeira garrafa em 1888 até os anos de 1950, o Brunello di Montalcino foi exclusivo da produtora dos Santi. A produção aumentou consideravelmente com a DOC em 1966, mas Biondi Santi continuou sendo o pai da denominação. O Consorcio de Brunello di Montalcino foi criado em 1967. Foi a partir da década de 1970 que o Brunello di Montalcino começou a receber atenção de outros produtores e amantes do vinho. Esse aumento de popularidade veio depois que o presidente da Itália serviu a rainha Elizabeth II, com o Biondi Santi Brunello de Montalcino, em 1969, na embaixada italiana em Londres. O vinho foi um grande sucesso com todos os convidados do jantar, que após esse episódio acompanha jantares em todo o mundo desde então. Com a atualização dos padrões de vinificação e enorme crescimento dos vinhedos nos últimos 20 anos, uma nova geração de produtores nasceu e trouxe o status da marca que se tornou conhecida por todos. Afinal, esse vinho tem menos de 200 anos e já conquistou o paladar do mundo inteiro.
O gosto mudou muito desde àquele vinho mais mineral, seco e sem cor do passado para os estilos mais redondos, de cor intensa e frutados de hoje em dia. Esta é a DOCG com mais valor agregado da Toscana e uma boa safra possui como características rendimento máximo de uva por hectare porque se a videira produzir muitos frutos, eles tendem a ser menos complexos e os vinhos não serão tão aromáticos. Se a videira produz poucos frutos, então a complexidade é alcançada. Portanto, quanto mais velho o vinhedo for, menos frutos ele produz, assim vários vinhedos desta região são bem antigos, facilitanto o controle deste rendimento e aumentando a sua qualidade consequentemente.
Os vinhos Brunello di Montalcino pela lei da Toscana pedem mais tempo de envelhecimento e guarda antes de ser comercializados. Para seu lançamento no mercado, as regras exigem que o vinho seja colocado à venda após cinco anos da safra e no caso do Riserva após seis anos da safra. Seu teor alcoólico mínimo tem que ter 12,5%, mas muitos passam de 14%.
Os vinhos também são bem controlados pelas estrelas de como foi o clima do ano, como segue:
Então, os produtores podem conforme as condições do ano decidirem se irão ou não produzir o Brunello, mas aí podem optar por fazer apenas o vinho Rosso di Montalcino que é o irmão mais novo do Brunello porque não tem todas essas exigências para ser produzido e comercializado. Ele pode ser vendido após um ano da sua colheita. É um vinho mais jovem e mais fácil de ser adquirido. E ele foi criado para que o produtor não tenha que ficar esperando os cinco anos sem ganhar dinheiro.
Para fazer os vinhos Brunello existem duas formas: clássica e moderna. O estilo clássico utiliza o lagar de cimento, o estágio em barris de carvalho da Eslovênia, muito grandes de 500 hectolitros e depois na garrafa. No estilo moderno o vinho é envelhecido em barris de carvalho francês menores de 225l e após estagia em garrafa.
Toscana
Esta região italiana é dividida por duas áreas geográficas, a zona da costa do Mar Tirreno que se extende da província de Livorno, Grosseto até Lazio. E em seguida pelas Colinas Centrais que ocupa as províncias de Florença e Siena. No artigo sobre o vinho Chianti explicamos mais sobre as duas cidades, se quiser saber clique aqui.
Esses locais são mapeados por zonas DOC, com normas de produção próprias e cepas específicas e quem não se enquadra nestes padrões usa o sistema alternativo Indicação Geográfica Típica (IGT). O terroir é muito distinto devido o solo ser de marla arenosa-calcária, com variações de argila, pedras e minerais. Para a viticultura, os produtores preferem solos que contém argila comprimida em flocos chamada galestro e rocha calcária ocre conhecida como alberese.
A topografia também é bem característica com 1/5 de montanhas e 2/3 de colinas. Os vinhedos altos compartilham dos bosques e das oliveiras. A costa e arredores oferecem grandes espaços de terra plana e colinas suaves boas para os vinhedos. Os verões são bem quentes e secos, com outonos imprevisíveis com muitas chuvas.
Degustação
Ao se abrir um vinho Brunello di Montalcino recomenda-se ir para o decanter e deixar descansando por pelo menos uma hora, se possível deixe mais horas para ele arear bastante. É possível encontrar aromas bem rústicos aliado com a fruta devido à uva sangiovese. Sua cor é vermelho rubi mais opaco com halos extremamente acastanhados e presença de lágrimas bastante intensas devido ao alto teor alcoólico da bebida. No nariz encontra-se aromas de frutas vermelhas mais maduras, como se fosse geleia, menta, alcaçuz, especiarias doces e carvalho tostado por causa da grande complexidade e da passagem em barris de carvalho.
É um vinho para ser curtido devagar, tem uma acidez equilibrada e taninos macios. Harmonize com carnes de caça, cordeiro, costela, funghi, trufas, queijos pecorino e parmesão. Quando a ocasião pedir comemoração, festa, conquistas então nem pense demais, escolha abrir este vinho para marcar o momento com muita elegância e surpreenda seus convidados.
Oportunidade
A Wine Lovers possui três exemplares destes preciosos e grandes vinhos italianos, comprove e divida esta experiência com todos.
Da Azienda Agricola La Torre, recomenda-se o vinho La Torre Brunello Di Montalcino DOCG com 100% sangiovese grosso. Ele recebeu 95+ pontos por Robert Parker. Amadurecimento por 42 meses em barris de carvalho eslavo, sendo apenas 15% do total por 12 meses. Refinamento por mais 4 meses em garrafa. De cor vermelho rubi, com reflexos granada. Possui aromas de frutos silvestres, rosa, cerejas negras e baunilha. Na boca é persistente, com toques de amora. Vinho bem estruturado, potente e poderoso. Tem bom equilíbrio entre fruta e acidez com retrogosto de chocolate. Harmoniza bem com carnes vermelhas, carnes de caça, cordeiro, risoto de funghi, massas com molhos a base de carnes, tipo ragu e queijos maturados como grana padano e parmegiano. A safra de 2015 foi especial para a vinícola porque a quase total ausência de chuvas proporcionou uma uva mais rica, cheia de sabor e potência, produzindo um vinho incomparável. O ano de 2015 é considerado como a safra da história, segundo afirmou James Suckling porque esses vinhos mostram impressionante precisão de frutas vivas, taninos finos e acidez refrescante, apesar da maturidade e riqueza das uvas. Assim, ele concluiu que essa safra se tornou uma das mais emocionantes dos últimos anos porque os taninos parecem derreter no vinho, uma característica que nunca tinha visto nos seus 36 anos visitando a região como crítico e jornalista de vinhos.
Outro excelente vinho tinto é o Montechiaro Brunello Di Montalcino DOCG com 100% sangiovese produzido pela vinícola Monte Chiaro, em Siena. Amadurecimento por 36 meses em barricas de carvalho e descanso em garrafa por mais 12 meses. De cor vermelho rubi intenso. Exala notas florais de violeta, notas frutadas de cerejas marraschino, amora e framboesa. Tem sabor de especiarias doces, eucalipto, café, tabaco e chocolate devido passagem em barricas de carvalho. Ideal com carnes vermelhas, carnes de caça, carne de javali, risotos, queijos curados como pecorino e gorgonzola.
Outro rótulo especial é o Cantine Guidi Brunello Di Montalcino DOCG com 100% sangiovese produzido pela Cantine Guidi, em Siena. Amadurecimento por 30 meses em barricas de carvalho esloveno e descanso em garrafa por mais 6 a 8 meses. De cor vermelho rubi intenso. Aromas de frutas maduras com sabores de alcaçuz. Vinho suave, com boa acidez e ótimos taninos. Foi o primeiro vinho criado da marca Collezione Famiglia Guidi, feita para diferenciar as garrafas especiais que possuem grande qualidade. Combina bem com carnes vermelhas, risoto de abóbora, carnes de caça e queijos curados.
Somente agora, ao se aposentar com 86 anos, é que tive oportunidade de pesquisar o Vinho Sangiovese e sua larga história que me foi passada pelo recém falecido Amigo Eng, Phd. Dr. Américo Ribeiro Mendes Neto . Por questões de outrossim, não consegui provar ainda o legítimo Brunello de Montalcini, mas tenho saboreado o também indicado pelo Amigo Américo Ribeiro Mendes, Caxiense de boa cepa, o ROSSO de Montalcini com um preço compatível. Sendo um modesto consumidor, ganho coragem para afirmar que o ROSSO é qualquer coisa de especial. Experimente e veras….
Olá Décio, nunca é tarde para descobrir as maravilhas de uma boa taça de vinho, não é mesmo? Então, faça a sua lista de desejos e escolha aos poucos aqueles vinhos que mais lhe agradam para beber nas ocasiões que desejar. Quando estiver preparado experimente o Brunello di Montalcino. Temos uma variedade com excelente custo-benefício. Boa degustação!