O fenômeno dos vinhos supertoscanos começou no início dos anos de 1980, quando produtores frustrados com as regras do sistema DOC/DOCG (Denominazione di Origine Controllata/Denominazione di Origine Controllata e Garantita) procuraram cepas alternativas para criar uma nova linhagem de vinhos de altíssimo nível fora da DOC. Esses vinhos foram rotulados de IGT (Indicazione Geografica Tipica) e VdT (Vino da Tavola), denominações criadas para vinhos considerados modestos!
Mas, o surpreendente foi que eles se tornaram o top of the art da produção de vinhos regional. Desde os anos de 1990, muitas DOCs/DOCGs tradicionais foram modificadas, e outras criadas para dar aos vinicultores mais liberdade na escolha das uvas, o que atribuiu outro tipo de status ao DOC/DOCG a muitos supertoscanos. Apesar disso tudo, alguns continuam usando o IGT devido à imagem nobre e vanguardista que conseguiram conquistar.
Itália e o vinho
Com 3.000 anos de história em viticultura, o país da “bota” se mantém solidamente à frente da produção mundial ao ser a segunda nação a produzir e consumir mais vinho no planeta, perdendo este posto apenas para a França.
A Itália está coberta de vinhas em toda a sua extensão, de ponta a ponta. O país possui 4 zonas vinícolas principais: o Noroeste, o Nordeste, o Centro, e o Sul incluindo as ilhas. Estas são subdivididas em 20 regiões, cada qual com um complexo conjunto de DOCs.
Por ser o segundo país maior produtor e exportador de vinhos do mundo, concentra mais de 1 milhão de viticultores e vinhedos em seus territórios. No entanto, a média é de menos de 1ha, sendo considerado um mercado muito fragmentado. Isso dificulta demasiadamente o crescimento de marcas internacionais, prática de muitos outros países ao oferecerem volume e consistência.
A nação dos vinhos tintos
Por apresentar um clima quente, relevo montanhoso e vento marinho consegue extrair do solo pobre vinhos que combinam elegância e peso. Apesar da variedade de cepas tintas, as frutas negras e o toque terroso está sempre presente. Tanino firme e acidez viva conferem longevidade e fácil harmonização com muitos pratos da culinária moderna.
Portanto, os vinhos italianos tintos têm uma expressão vigorosa de seu terroir por possuírem jeito italiano, autenticidade e charme. Sem esquecer das suas tradições culturais rurais.
O Centro
Cerca de ¼ da produção vinícola nacional é cultivada nas regiões de colinas da Itália Central. Assim, o melhor vinho do país pode ser considerado deste terroir, com clima ensolarado do mediterrâneo e experientes produtores. Dentre as diversas regiões desta zona encontra-se a Toscana, que é considerada a líder por possuir o maior número de DOCs e a produção mais variada de vinhos.
Compete com a região de Piemonte o título de produtor de vinho de qualidade excepcional no país. As Colinas Centrais da Toscana, desde o tempo dos etruscos, foram o coração no processo da vinicultura. Atualmente, outras zonas têm despontado como grandes produtoras. Desde 2009, os seus vinhedos cobrem mais de 200.000ha, com diversas cepas locais e estrangeiras fascinantes. Os tintos revesam-se entre as uvas Sangiovese, Montepulciano, Cabernet Sauvignon e Merlot.
Toscana
A Toscana divide-se em duas grandes áreas geográficas. A zona da costa do Mar Tirreno; que se extende desde a província de Livorno, passando por Grosseto até chegar na divisa com Lazio; e as Colinas Centrais das províncias de Florença e Siena. A maior parte das áreas vinicultoras de Pisa e Lucca é continental, mas o clima quente marinho produz vinhos parecidos com os da costa. As áreas geográficas estão separadas em zonas DOC, com normas de produção próprias e cepas específicas, e os que não fazem parte deste sistema usam o rótulo alternativo IGT.
Cepas tintas
A uva Cabernet Sauvignon é originária da margem esquerda de Bordeaux (França), e alcança no local sua expressão máxima em vinhos bem estruturados, elegantes e de bom envelhecimento. Sabores de cassis, menta e pimenta-verde. Se amadurecidas em carvalho surgem baunilha e cedro. Uma cepa grande, que produz vinhos de qualidade.
A uva Sangiovese domina praticamente toda a região central da Itália, mas é grandiosa na Toscana, nas regiões de Chianti, Brunello de Montalcino e Vino Nobile de Montepulciano. É uma cepa autóctone italiana. Ela produz vinhos de corpo médio a encorpado, secos de acidez vivaz, levemente picantes, com aromas e sabores de cereja amarga, ameixa, especiarias, tabaco e ervas secas. Muito usada em associação com a Cabernet Sauvignon, os vinhos ganham a denominação de supertoscanos. Como curiosidade: Sangiovese em Latim é Sanguis Jovis, ou seja, Sangue de Júpiter.
Terroir
Os vinhedos altos compartilham a terra com bosques e oliveiras. Possui 1/5 de montanhas e 2/3 de colinas. A costa e arredores oferecem grandes espaços de terra plana e colinas suaves. O solo básico é de marla arenosa-calcária. Variações na mistura de argila, pedras e minerais influenciam na viticultura.
O clima nas colinas apresenta verões bem quentes e secos, outonos com risco de chuvas durante a colheita. Na costa é quente e seco, o que garante safras mais tranquilas.
Exemplos incríveis
A Wine Lovers tem dois rótulos deste tipo para você experimentar:
O primeiro é o premiado Insieme, vinho italiano, com IGT da Toscana, tenuta di Nick Salussolia, que foi segundo lugar em teste de degustação às cegas com os rótulos Ornellaia, Sassicaia, Guado al Tasso, Solaia e Tignanello. Com uma seleção cuidadosa de uvas: 45% Sangiovese, 40% Merlot e 15% Cabernet Franc. Colheita manual. Fermentação em cubas de cimento com controle de temperatura. Envelhecimento com o uso de barris novos de carvalho por 12 a 14 meses e descanso em garrafa por 10 meses. De cor vermelho rubi intenso, com tons de púrpura. Aroma intenso e frutado de frutos pretos como amora e mirtilos e frutos vermelhos maduros misturados com sensações florais de violeta e intensas notas de especiarias. Na boca é cheio, doce, encorpado e muito macio, com taninos bem estruturados, maduros e crocantes. Final longo, doce e persistente. Harmoniza bem com carnes vermelhas, carnes de caça, queijo seco e temperado. Outros prêmios relevantes são Jancis Robinson (15,5 pontos) e Decanter 2018 (Medalha de Prata – 90, de um total de 100 pontos).
Outro exemplar disponível é o vinho Etrusco, IGT da Toscana, da vinícola italiana, Fattoria de Montecchio. Com 80% Cabernet Sauvignon e 20% Sangiovese. Colheita manual. Fermentação malolática em aço, maceração a 28o C. Maturação de 18 meses em barricas de carvalho francês e descanso em garrafas por 12 meses. De cor brilhante, vermelho rubi intenso. Aromas de grande complexidade, frutas negras e notas de especiarias. Na boca apresenta um bom volume, taninos elegantes e equilibrados. Final persistente. Ideal com queijo de cabra, salames da Toscana, cozidos e carnes vermelhas assadas.
Curiosidade
O Território de Chianti Clássico é uma terra de antigas adegas que produzem vinhos tradicionais que remontam à época Etrusca. O nome “Clante”, na verdade, deriva de um nome de família etrusca, comum na área. Um IGT produzido inteiramente a partir de vinhedos de Montecchio, como uma homenagem aos antepassados, pois evoca o sabor da história. Equilíbrio e elegância, juntamente com um sabor aromático refinado são as características prevalentes deste vinho.
Como ler um rótulo de vinho italiano
Se na garrafa está escrito DOC ou DOCG, o nome da região ou do distrito pode-se conseguir pistas sobre o tipo de vinho. Algumas incluem o nome do produtor ou marca também. Pode ter as siglas IGT ou VdT e aí o nome do produtor pode-se tornar crucial para indicar um vinho com potencial. Outra coisa, quando um IGT é de alta qualidade seu preço pode ser diferenciado das demais DOC e DOCG em reconhecimento da mesma região, mas o custo/benefício compensa o investimento.
O nome da cepa pode vir descrito em alguns casos e assim o apreciador pode descobrir o estilo do vinho. E a qualidade das safras pode variar bastante, por exemplo, quanto mais ao norte maior a variação de ano a ano.
Tour na Toscana
O trajeto começa em Florença e termina em Siena, de 117km. Pode ser feito em um dia, mas as estradas rurais na Toscana tem velocidade controlada. A maioria das vinícolas recebem visitantes, mas sempre é recomendável fazer um contato prévio.
A maior exposição de vinhos da Toscana chama-se Corte del Vino, e acontece no terceiro final de semana de maio em San Casciano. Ocasião que mais de cem vinicultores da região oferecem seus vinhos e os participantes podem fazer aulas de degustação com grandes nomes.
O melhor evento anual das vilas de Chianti acontece em Greve, na segunda semana de setembro e para visitar as vinícolas recomenda-se o divertido Cantina Aperte, em maio, quando todas abrem as adegas para visitas guiadas e degustações.