Todos sabem que a França é o país que possui excelentes condições naturais, climáticas e de relevo, para produzir os melhores vinhos do mundo. Isso causa inveja em vários produtores estrangeiros, mas ninguém tem como mudar essa incrível diversidade geográfica, centenas de cepas nobres e sua tradição no ramo da vinicultura. Por isso, os melhores vinhos franceses são comercializados por todos e continuam sendo o orgulho da nação bleu-blanc-rouge!
A França é o segundo maior produtor mundial de vinho em volume com cerca de 48,6 milhões de hectolitros em 2018. A área total de vinhedos tem aproximadamente 793.000ha. O consumo interno continua estável desde 2014 e está em 26,8 milhões de hectolitros, o país encontra-se atrás dos EUA com 33 milhões de hectolitros. Com 14,1 milhões de hectolitros é considerado o terceiro país mais exportador de vinho do mundo. Dados do último relatório da OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho), www.oiv.it/, de 2019.
Regiões vinícolas
As principais regiões vinícolas estão concentradas em apenas três zonas climáticas, sendo elas: Vale do Loire e Bordeaux que sofrem influência marítima do Oceano Atlântico; Champagne, Borgonha, Vale do Rhône que têm características continentais e o Sul da França que apresenta clima mediterrâneo.
Vale do Loire
O rio Loire corre por um vale de oeste a leste, a maioria em planícies. Em Anjou-Saumur e Touraine, localizadas no interior, seus afluentes percorrem colinas e até morros a 300m de altitude. O solo apresenta diferentes materiais ao longo do vale como areia, gnaisse e xisto em Pays Nantais; calcário, arenito, xisto e ardósia em Anjou-Saumur; calcário, argila, areia e cascalho em Touraine; e kimmeridgiano e calcário no Loire Central.
Essas características permitem a produção dos melhores vinhos franceses originais e diversificados como brancos, tintos, rosés e espumantes doces, meio-secos e secos. Os brancos são produzidos com uvas chenin blanc, conhecida na região como pineau de la loire, melon de bourgogne e sauvignon blanc basicamente. Os tintos são feitos com a uva cabernet franc. O interessante é que esse clima permite vinhos delicados e saborosos ao invés de concentrados e potentes como em outras localidades.
Vinhos doces
O Vale do Loire é o lar de vinhos brancos doces de chenin blanc, entre eles o Coteaux du Layon, considerado um dos melhores do mundo. São bebidas suaves, florais, frutadas e com uma acidez equilibrada nos seus primeiros anos de vida, em seguida amadurecem e ficam com sabores de frutas desidratadas e mel. O vinhedo está localizado em Anjou-Saumur, as uvas são colhidas por seleção e seus produtores conseguem vinhos com concentração natural e muita riqueza. Até o padrão de doçura no Loire foi regulamentado pela União Europeia, como segue:
- Vinhos secos – menos de 5g de açúcar residual/litro
- Vinhos demi-secs ou meio-secos – entre 5 e 14g de açúcar residual/litro
- Vinhos moelleux ou doces – entre 14 a 45g de açúcar residual/litro
- Vinhos doux ou muito doces – mais do que 45g de açúcar residual/litro
Muitos produtores preferem usar a denominação liquoreux ou licoroso quando o vinho é considerado muito doce. Outra característica diz respeito ao preço ser um pouco mais caro, pois esses vinhos podem envelhecer por décadas sem perder o frescor.
Bordeaux
É a região imperial dos melhores vinhos franceses, com 118.919ha e uma produção de 4,7 milhões de hectolitros por ano, incluindo muitos vinhos ilustres e caros do mundo. Uma região de planícies que é beneficiada pela proximidade com o calor do Estuário do Gironde que auxilia na maturação das uvas e proteção de geadas. O solo é variado com pedra calcária em St. Émilion, cascalho em Médoc e Graves que ajudam a regular a água para as vinhas. Com clima temperado marítimo, inverno moderado e verão quente.
As vinícolas Château Margoux, Haut-Brion e Cheval Blanc estão localizadas nesta faixa. Em Paulliac encontram-se vinhos tintos potentes, de longa duração, com muita presença mineral, sabor de cassis, cedro e toques metálicos e de tabaco. Produzidos com a uva cabernet sauvignon, merlot e cabernet franc podem receber a influência do solo de cascalho profundo.
Já em St-Émilion, os tintos clássicos são feitos com as mesmas uvas cabernet franc, merlot e toques de cabernet sauvignon, no entanto, devido ao solo de argila e calcário o sabor é mais fresco, redondo, elegante e com muito tanino. Um vinho concentrado com fruta madura produzido à margem direita de Bordeaux.
Vinhos médio a bem encorpados
Bordeaux possui os melhores vinhos franceses tintos clássicos, que têm muito corpo, firmeza e estrutura. Após envelhecer revelam aromas de violeta, ameixa e amora. Os taninos ficam mais macios até incluir sabores de chocolate, trufas e especiarias. Muitos podem passar por barrica de carvalho para melhorar a estrutura e receber um toque de baunilha.
Um desses é o vinho Château Ponchemin Bordeaux, com 42% cabernet sauvignon, 35% merlot e 23% cabernet franc, da vinícola Terre de Vignerons. De cor vermelha grená escura. No nariz apresenta frutas vermelhas e picantes com madeira. Na boca é agradável, redondo, frutado e com boa persistência. Ideal com carnes vermelhas grelhadas e assadas. Premiado no Concurso Agrícola Geral de Paris 2010 com a Medalha de Ouro.
Outro excelente vinho da região é o Saint Genés Bordeaux Rouge, da vinícola Saint Genés, com 80% merlot e 20% cabernet sauvignon. De cor roxo escuro, aroma frutado, levemente picante. Na boca é redondo, fácil com acidez equilibrada. Harmoniza com carne vermelha, churrasco, queijo e azeitonas. É altamente recomendado pelo Guia Hachette e recebeu a Medalha de Ouro por Gilbert & Gaillard em 2011.
Champagne
A região de Champagne AOC contém cinco áreas vinícolas, as mais conhecidas são Montagne de Reims, Vallée de la Marne e Cotê des Blancs. Estende-se por 150km de norte a sul e 115km por leste a oeste com um total de 17 grands crus, 43 premiers crus e 35.000ha de vinhedos. A paisagem tem rios e ondulações na planície, mas as colinas e encostas dos vales protegem as vinhas dos ventos fortes. O clima frio e as tempestades do Canal da Mancha estendem o ciclo da vinha até o limite graças ao solo de cal porosa.
O espumante feito nesse local pode utilizar a denominação de Champagne e normalmente é produzido com as uvas pinot noir, pinot meunier e chardonnay. Podem ser misturadas várias safras na mesma garrafa, sendo dos melhores anos do vinhedo. Com uma produção de 338 milhões de garrafas por ano, a bebida é a raison d’être, ou seja, a razão de ser da localidade.
Legislação de Champagne
Cada champagne tem um estilo diferente e leva uma denominação respectiva. Vamos conhecer cada uma:
- Brut: depende da quantia de açúcar acrescentada na dosage. Pode ser ultra brut (muito seco), brut (seco), demi-sec (meio-doce) e doux (muito doce).
- Non-vintage: é feito de uvas de safras diferentes e amadurecido com borra por pelo menos 15 meses.
- Vintage: é feito de uma safra apenas e requer pelo menos 36 meses de amadurecimento.
- Rosé: pode misturar vinhos brancos e tintos apenas em denominações de Champagne.
- Blanc de blancs: feito com uvas brancas apenas, quase sempre 100% chardonnay e é bem duradouro.
- Blanc de noirs: com uvas tintas apenas, tradicionalmente pinot noir e pinot meunier e tem tendência a ser mais frutado que os demais.
- Grande Marque: significa grande marca em rótulos de vinícolas importantes para mostrar qualidade.
- Cuvée de prestige: com as melhores uvas da região, amadurecidos por longo tempo, como Dom Pérignon e La Grande Dame.
Um deles é o Champagne Camille Philippe Rosé, da vinícola Dom Caudron, em Passy-Griny, no Vallée de la Marne, com 80% pinot meunier, 10% chardonnay e 10% meunier. As borbulhas em abundância são finas e elegantes. Possui notas cítricas de frutos vermelhos, nuances de mel e brioche. Na boca é cremoso, untuoso e com bela acidez. Combina com crumble de morango ou sozinho como aperitivo.
Borgonha
Os vinhedos da Borgonha estendem-se ao longo de 50km na Côte D’Or, famosa “Colina Dourada” entre Dijon e Chagny e abrange uma área de 175km de Chablis ao norte até Beaujolais ao sul. Em escarpas cortadas por riachos até juntar-se ao rio Saône em declive, o solo é de areia, granito, argila e muito calcário. O clima é continental moderado com invernos secos e frios, verões quentes e outonos agradáveis.
Com 50.122ha de vinhedos, uma produção de 29,3 milhões de garrafas por ano, em que vinhos tintos são produzidos em sua maioria (59,8%), brancos (35,6%) e espumantes (4,6%). Apenas três cepas são cultivadas: chardonnay, pinot noir e gamay. Como curiosidade, as complexas leis de sucessão determinadas pelo código de Napoleão, o grande imperador da França do século XIX, obrigam ainda que as terras sejam divididas igualmente entre os filhos do falecido. Assim, as propriedades devem ser desmembradas entre os vários herdeiros e os vinhedos foram ficando cada vez menores com não mais do que uma ou duas linhas de vinhas nas regiões grand cru.
Vinho borgonhês
Pode ser tinto ou branco, mas são definitivamente os melhores vinhos franceses desta região e possuem suas próprias características. O borgonha tinto é produzido com a uva pinot noir e varia de acordo com o terroir do vinhedo podendo ser firmes e intensos quando feitos no coração da Borgonha em Côte de Nuits e Côte de Beaune, caso do Chambertin e do elegante e refinado Volnay. O borgonha branco é feito com a uva chardonnay e os melhores são da região de Côte de Beaune como o rico e frutado Corton-Charlemagne, o intenso e floral Le Montrachet.
Vale do Rhône
A topografia apresenta terrenos acidentados ao norte que seguem o curso do rio Rhône da cidade de Vienne até o sul em Valence. Possui encostas íngremes de xisto com 350m acima do nível do mar com clima continental clássico e estações bem marcadas, perfeitas para a uva syrah. Os vinhedos protegidos do vento ficam no sul e sudeste, tem o solo de aluvião, calcário com argila e clima mediterrâneo com verões quentes e secos e invernos chuvosos ideias para as uvas grenache e mourvèdre.
Com 77.174ha de vinhedos, uma produção de 31,3 milhões de garrafas por ano, sendo 83% de vinhos tintos, 12% de vinhos brancos e 5% de espumantes. Ao norte estão as AOCs de Côte Rôtie, Condrieu, Château Grillet, St-Joseph, Cornas e St-Péray ficam na margem esquerda e Hermitage e Crozes-Hermitage na direita. Cerca de 100km ao sul estão as AOCs de Châteauneuf-du-Pape, Gogondas, Vacqueyras, Lirac e Tavel.
Norte e sul do Rhône
Uma das estrelas do norte é a AOC Côte Rôtie com seus vinhos tintos de syrah elegantes, com frutas escuras e especiarias de apenas 200ha de vinhedos. Ao sul encontra-se a AOC Châteauneuf-du-Pape com seus vinhos tintos potentes, generosos, quentes produzidos com grenache, syrah e mourvèdre.
Sul da França
Ao longo da costa do Mediterrâneo fazendo fronteira com a Itália e a Espanha, existe uma área enorme vitivinícola em que Languedoc-Roussillon ocupa cerca de 1/3 do total dos vinhedos. Planícies e montanhas variam ao longo da paisagem com colinas, pastagens e arbustos. De clima mediterrâneo com verões quentes e invernos chuvosos. O solo é aluvial rico nos vales, xisto e pedra calcária nas colinas que recebem os ventos do norte conhecidos como cers e tramontane, junto com o famoso mistral, aumentam o clima seco e evitam que as uvas apodreçam.
Por isso, o local é como um grande vinhedo porque a leste está a Provence com aproxidamente 26.000ha de vinhas e a oeste encontram-se Costières de Nîmes, Languedoc e Roussillion com mais de 300.000ha. Alguns dos melhores vinhos franceses rosés são produzidos na AOC Côtes de Provence com as uvas grenache, syrah e mourvèdre, além de cabernet sauvignon e cinsault.
Côtes de Provence
Com alta diversidade topográfica e climática produz 80% de vinhos rosés das uvas cinsault e grenache. As zonas variam da costa perto de St-Tropez até ao norte na fria Draguignan. A vinícola Château de Brigue localiza-se nesta AOC e produz o vinho Provence Rosé com 40% grenache, 40% cinsault e 20% cabernet sauvignon, de aroma complexo, mistura de frutas vermelhas e flores. Na boca apresenta bom ataque com notas frutadas e toque mineral com bom frescor que combina com tapenade, pimentões, abobrinhas, tomates e berinjelas assadas. Ideal com pescados assados, com funcho e na culinária japonesa.