A Espanha é um dos países vinicultores mais antigos da Europa ocidental, para ser mais exato, é o segundo. Desde há 3.000 anos produzem a bebida do Deus Baco e conseguem criar vinhos frutados e leves para o dia a dia, assim como os famosos vinhos espanhois clássicos com alta complexidade e tempo de guarda.
Um pouco de História
Entre 1100 e 500 a.C, o vinho começou a ser feito na Andaluzia, no Sul da Espanha, por mercadores fenícios e em seguida pelos gregos que ao fugir da guerra levavam tudo o que tinham, entre eles suas vinhas. Em 200 a.C, os romanos chegam na região e trazem consigo uma nova mentalidade, a vitivinicultura comercial para a exportação, que acabou originando o primeiro mercado de exportação da Espanha.
Os vinhos espanhois sofreram com a entrada dos mouros em 711 porque o comércio vinícola foi proibido por vários anos devido aos costumes muçulmanos. Apenas no século XIV que o Jerez tornou-se a bebida mais vendida por toda a Europa. Graças ao descobrimento das Américas novos mercados foram abertos a partir de 1492 e isso rendeu mais crescimento nesse ramo de exportação.
Em 1850, na região de Rioja, a utilização dos métodos bordaleses para a produção de vinho tinto causou uma enorme mudança quando no fim do século XIX, a epidemia da filoxera, que acabou por destruir muitos vinhedos na França, fez a exportação dos vinhos espanhois explodir para dar conta do consumo dos franceses.
Já no século XX, ao retornar ao sistema democrático em 1978, o país cresceu e prosperou. Isso também se deve aos grandes investimentos pela entrada na União Europeia em 1986. Os vinhedos e vinícolas, lá conhecidas como bodegas, receberam melhorias no plantio, na poda, no processo de vinificação com a escolha dos tanques de aço inoxidável, etc.
Regiões vinícolas atuais
Terceiro maior produtor mundial de vinho, com volume anual de 39,6 milhões de hectolitros. Com mais de 10 mil vinícolas, 60 áreas de Denominação de Origem e de Qualidade (DO/DOCa), 17 regiões autônomas regionais e 2 Denominação de Origem de Pago (DO Pago) distribuídas em uma área de 975.270 ha. A Espanha produz 52% de tintos, 24% de brancos, 17% de rosés, 4,5% de espumantes e 2,5% de fortificados segundo dados da Organização Internacional da Vinha e dos Vinhos (www.oiv.int/).
Desde metade dos anos de 1990, as vinícolas foram se modernizando e tornando verdadeiras empresas limitadas, com acionistas que prezam pela eficiência e qualidade de seus produtos.
O país pode ser dividido em três partes quando se trata da produção de vinhos: Noroeste – Galícia e Castilla y León; Nordeste – La Rioja, Navarra, Aragón e Catalunha; Centro-Sul – Madri-Extremadura, Castilla-La Mancha, Valência, Andaluzia e as Ilhas Canárias.
Os melhores vinhos espanhois são provenientes da região Norte, e entre os dois rios mais significativos para a irrigação na viticultura, sendo eles: o Duero e o Ebro. Os vinhedos localizam-se nos dois extremos, no nível do mar na Catalunha, seguindo para as terras baixas de Navarra e Aragón, depois para 2.600 m de altitude em La Rioja, Penedés e Ribera del Duero.
O terroir possui solo de pedra calcária com arenito e argila calcária, o clima é temperado, com influências do Atlântico ao norte da Cordilheira Cantábrica, passando para o continental. As terras baixas são mais quentes e secas, as terras altas são mais frias.
Galícia e Castilla y León
A Galícia, está localizada ao Norte de Portugal, faz um frio extremo e é o lar ideal para os vinhos brancos, frutados, frescos e secos. A cepa mais utilizada é a albariño. A DO Rías Baixas ganhou destaque no comércio exterior de vinhos espanhois de qualidade, mas os vinhedos produzem poucos exemplares por causa da dificuldade do relevo da região, encostas íngremes dos vales, e o preço fica muito alto.
Uva albariño
Também conhecida como alvarinho em Portugal, nascida na região do Minho, DOC Vinho Verde, e possível adaptação da famosa riesling na Alemanha, trazida por monges alemães pelo Caminho de Santiago no século XI. É uma uva com aromas primários de pêssego, maracujá, limão, lichia, banana, flor de laranjeira, mel e violeta, muito cítrica e ideal para acompanhar frutos do mar, peixe, queijos gordurosos, ostra e legumes assados.
Os vinhos espanhois desta cepa tendem a ter mais intensidade do que os portugueses. Tem um potencial de guarda incrível e é considerada por muitos enólogos uma das castas brancas mais importantes na Península Ibérica. Tem cor amarelo palha com tons esverdeados, sensação de efervescência devido à alta acidez. Na boca é agradável, refrescante e saboroso. Tem persistência e final longo.
Em Castilla y León está localizada uma das DO mais importantes da região, a Ribera del Duero graças ao seu vinho tinto internacional mais famoso, Vega Sicilia. Com altitude de 900 m acima do nível do mar, solo rico em calcário sobre um leito de xisto é considerado o local perfeito para a vinha da uva tempranillo, chamada de tinto fino ou tinto del país.
A DO Rueda é a mais importante de vinho branco porque o mercado procura desde o fim dos anos de 1970 vinhos espanhois frescos, frutados, delicados com a uva verdejo e sauvignon blanc. São capazes de competir de igual para igual com os vinhos da uva albariño, da DO Rías Baixas.
La Rioja, Navarra, Aragón e Catalunha
A região de La Rioja produz o vinho mais conhecido da Espanha, o Rioja, que é feito com uvas tintas como tempranillo, graciano, carignan e garnacha. Ao passar em barris de carvalho francês adquire complexidade e longevidade. Em 1991, conseguiu a Denominação de Origem Qualificada (DOCa), que é o grau especial acima de DO conferido aos vinhos espanhois de qualidade constante durante muitos anos. Tem vinhos brancos e rosés que são considerados mais frescos e jovens, da uva macabeo, chamada de viura ou com malvasía, garnacha blanca.
Uva tempranillo
Conhecida como tinto fino e tinto del país, ela traz aromas de morango e framboesa maduros com nuances de madeira, se o vinho tiver passagem em carvalho. Podem ser classificados como joven, crianza, reserva e gran reserva. Joven é quando o vinho não passa em carvalho ou fica muito pouco e deve ser consumido após a vinificação; crianza quando passou pelo menos 6 meses em carvalho e 18 meses na garrafa antes de ser distribuído; reserva se passou pelo menos 12 meses em carvalho e 12 meses na garrafa; e por último o gran reserva quando passou pelo menos 18 meses em carvalho e 60 meses na garrafa até se estabilizar para ser comercializado.
A região de Navarra produz rosés, tintos e brancos de diversas uvas como cabernet sauvignon, merlot, tempranillo, chardonnay, garnacha blanca, malvasía e moscatel. A altitude varia de 350 a 600 m, o clima é mais quente nas terras baixas e ideal para o plantio da carignan ou cariñena e a garnacha. Vinhedos localizados mais ao norte, de clima frio, estão produzindo ótimos vinhos espanhois com as uvas pinot noir, syrah e gewürztraminer.
Aragón é considerada uma região nova no mercado internacional do vinho. Suas 4 DOs localizam-se em duas provincías: Zaragoza e Huesca. O terroir tem características de clima quente e seco, com verões intensos e invernos frios. Solo arenoso e suave sobre base de pedra calcária e altitude entre 350 a 800 m. Seus melhores vinhos são feitos com cortes das uvas garnacha e tempranillo, varietais de cabernet sauvignon e carignan.
A região da Catalunha faz vinhos há mais de 500 anos. Tem 11 zonas DO, entre elas uma na província de Barcelona chamada Penedés com 27.500 ha, considerada a mais importante e maior em extensão. Localizada há 600 m acima do nível do mar, constituída de solo arenoso, aluvial, argiloso sobre calcário, com um pouco de granito e xisto. Ideal para as vinhas de cabernet sauvignon, garnacha, merlot e tempranillo (tintas) e chardonnay, viura, parellada e xarel-lo (brancas).
Indústria da Cava
No clima de montanha, encontra-se o terreno Mitja-Penedés, apesar de situar-se entre 250 a 500 m acima do nível do mar, o clima mais frio produz uvas de maior qualidade, com acidez fresca e amadurecimento perfeito para a produção dos melhores espumantes, conhecidos no país como Cava. Elaborado pelo método tradicional, esta bebida superou o Champagne como espumante mais vendido no mundo. Essa região supre em 90% toda a necessidade das castas para a Cava, mas pode-se aportar outras uvas da mesma região da Catalunha.
Utilizam mais as uvas parellada, viura e xarel-lo. Mas, podem colocar também chardonnay. Se for rosé usam garnacha, monastrell e trepat. É a região onde se encontram as duas maiores empresas do ramo, Codorníu e Freixenet.
Madri-Extremadura, Castilla-La Mancha, Valência, Andaluzia e as Ilhas Canárias
Vinos de Madrid DO, compreende a área ao sul de Madri e oeste em direção à Portugal cujas uvas são malvar (branca) e garnacha (tinta). A Ribera del Guadiana DO, em Extremadura, tem conquistado espaço no mercado exportador e muito investimento desde a sua criação em 2001. Com o solo de argila arenosa sobre pedra calcária e cal, os vinhos tem um toque mineral e sabor marcante das uvas cultivadas: tempranillo, monastrell, bobal, airén e merseguera.
Região a sudoeste de Madri, Castilla-La Mancha possui 7 DOs, mas apenas La Mancha e Valdepeñas produzem vinhos finos com a cepa tempranillo (conhecida como cencibel) que é muito rica, condimentada e frutada; e com a uva airén que é fresca, leve e bem aromática. A diferença é que em Valdepeñas o vinho feito com a uva tempranillo tem um estilo mais amadeirado por passar em barricas de carvalho. É considerada uma das zonas de melhor custo-benefício, pois os preços são relativamente baixos e os vinhos fantásticos.
Valência sempre foi muito conhecida pela exportação, uma de suas DOs é Alicante que produz uvas merseguera e monastrell, Utiel-Requena DO tem potencial com os seus vinhos tintos feitos com a uva bobal e Valência DO que faz vinhos de merseguera e monastrell, mas um espumante doce com a cepa moscatel de Valencia. Em Múrcia, temos a região de Jumilla que produz vinhos similares à Valência, mas inclui a cepa macabeo e conseguiu revitalizar a monastrell na região.
Em 500 a.C nasceu a vinicultura na Espanha, mais precisamente em Andaluzia, com vinhos fortes, doces e robustos, o popular jerez. O incrível é que a região vem produzindo vinhos surpreendentes brancos e tintos, principalmente de altitude, em clima mais frio, de montanha.
Jerez DO
É um vinho único no mundo por causa da maneira como é feito e seus estilos diversos. Há mais de 2000 anos este vinho espanhol encanta o público porque possui um complexo e trabalhoso processo de produção feito de corte em etapas que mistura vinhos velhos e novos em uma rede de barris intitulada solera. Pode fazer desde um vinho muito seco e delicado até um mais potente e doce. E somente os vinhos feitos nesta localidade podem ser denominados como jerez.
Nas Ilhas Canárias, há menos 10 DOs, mas apenas duas conseguem produzir para exportação,que são: Tacoronte-Acentejo e Lanzarote. O solo é vulcânico e cultivam as cepas listán negro, negramoll, pedro ximénez, malvasía, moscatel, verdello e bijariego. A primeira é a mais antiga e importante, faz tintos robustos, quentes, além de brancos frescos e cristalinos. Os produtores de Lanzarote plantam as vinhas em buracos cavados na rocha vulcânica e produzem vinhos brancos doces encorpados feitos de malvasía e moscatel.
A Wine Lovers tem muitos vinhos espanhois sensacionais para você conhecer um pouco de cada região. Vamos sugerir alguns com excelente custo-benefício.
Da Bodegas Navarrsotillo, localizada em Navarra, temos vários vinhos, vamos destacar apenas alguns Noemus Tinto Biodinâmico, com tempranillo, garnacha e mazuelo, de cor vermelho cereja, muito limpo com corpo médio-alto. Seu bouquet é completado por tons picantes de cravo e baunilha. Tem a acidez típica destas castas espanholas, o que lhe confere frescura com um tanino encorpado, suave e um final de boca longo. Combina com aperitivo, tapas, entradas, paellas, massas, pratos da cozinha Mediterrânea e carnes.
Temos o vinho Magister Bibendi Crianza, com 100% tempranillo, de cor vermelho rubi com reflexos terracota. Seus aromas de frutas vermelhas maduras combinam perfeitamente com notas de baunilha, canela e especiarias doces. Boas estruturas tânicas na boca com longa duração no retrogosto com tons tostados são evidenciados na prova. Harmoniza com pratos da cozinha Mediterrânea, carnes grelhadas, carnes vermelhas assadas e queijos semi-curados. Outro vinho incrível é o La Marciana Garnacha, com 100% garnacha, de cor fundo de cereja com borda granada. Aroma complexo de frutos maduros (morangos, amoras), com notas de frutos negros e especiarias doces (cravo, noz moscada, baunilha), minerais, chocolate e balsâmico. Paladar potente, amplo e encorpado, tanino maduro nobre, dotado de intensa sensação aromática e final prolongado. Ideal com carnes vermelhas, aves de caça e peixes.Da Bodegas Peñafiel, localizada em Ribera del Duero, temos o vinho Privilegio de Langdar Cosecha, com 100% tempranillo (tinto fino), de coloração vermelha intensa com toques de violeta. Um vinho limpo, vívido e brilhante. Traz aromas intensos e frescura das frutas vermelhas como a groselha. Na boca é equilibrado, redondo e macio. Ideal com guisado, veado assado, carne vermelha, carne grelhada, legumes e queijos envelhecidos.
Da Tobelos Bodegas y Viñedos, situada em La Rioja, o vinho Tobelos Crianza, com 100% tempranillo, tem cor vermelha cereja bem fechado. Aromático no nariz, frutas vermelhas em licor (cereja), cacau, especiarias e bom carvalho. Na boca saboroso, equilibrado, taninos finos, fresco, maduro, longo, com um bom sabor de retrogosto. Frutos maduros via retronasal. Este vinho harmoniza bem com qualquer prato elaborado, como cozido, arroz, carnes de caça ou aves.
Da vinícola Romale, em Extremadura, mais precisamente em Ribera del Guadiana, sugerimos a Cava Viña Romale Rose, com 100% garnacha, este espumante rosé tem aromas intensos de frutas vermelhas. Na boca é redondo e muito equilibrado. Harmoniza com aperitivos, patês, saladas, mariscos, pescados e carnes brancas suaves.