Quais são os melhores vinhos portugueses?

A Revista de Vinhos – A Essência do Vinho é uma publicação mensal de referência no segmento de vinhos, gastronomia e enoturismo de Portugal e lançou o desafio: Dez anos, dez vinhos portugueses, para a mais influente jornalista e “Master of Wine” do mundo, Jancis Robinson. Ela escolheu entre muitos concorrentes e dentre eles, selecionou um vinho orgânico feito artesanalmente em talha de barro.

A juíza

Em 2017, Jancis Robinson, foi convidada a eleger os dez vinhos portugueses que mais a marcaram na última década. Como é considerada uma das mais eminentes do mundo em sua área com mais de 40 anos de carreira profissional, incluindo uma consultoria para a adega da rainha Elizabeth II e também indicada como a responsável por ter colocado os vinhos tintos portugueses, de 1999 a 2012, em destaque internacional com relação a suas pontuações médias gerais, sua opinião é extremamente relevante.

A crítica do Reino Unido escreveu a obra “The World Atlas of Wine”, em conjunto com Hugh Johnson, que é recomendada como uma das publicações mais aclamadas sobre vinho e já está em sua oitava edição. Para ela foi realmente difícil listar apenas esses 10 vinhos, pois alguns já eram bem conhecidos de enólogos e enófilos.

Jancis Robinson e seus dez vinhos portugueses
Jancis Robinson e seus dez vinhos portugueses

O escolhido

Entre eles encontra-se o tinto orgânico da vinícola Espaço Rural, da região do Alentejo, mais precisamente em Vidigueira (sul do país), o Bojador Vinho de Talha 2015, composto de 40% Trincadeira, 30% Moreto e 30% Tinta Grossa. Vinificação tradicional em talhas de barro e sem controle de temperatura. Fermentação com leveduras indígenas da região e sem qualquer adição ou correção dos mostos.

A forma ancestral de fazer o vinho de talha foi totalmente respeitada. O vinho estagiou por dois meses na garrafa e como não foi estabilizado antes do seu engarrafamento, para não afetar seu potencial de evolução, pode conter alguns resíduos naturais no fundo.

Sua cor é rubi intensa. Possui aromas de frutas vermelhas, mineralidade, complexidade e frescor na medida certa. Final de boca com intensidade longa. Harmonização com carnes vermelhas, pratos com molhos condimentados, estrogonofe de carne e até bacalhau.

Pedro Ribeiro, enólogo da vinícola disse na ocasião: “Fiquei muito surpreendido com está nomeação porque esse é um projeto muito recente e paralelo, pessoal. E que surgiu da necessidade de criar vinhos que de alguma forma vão de encontro com o que alguns mercados vêm pedindo, mas também são ‘fora da caixa’. São aqueles vinhos que expressam de uma maneira mais pura e autêntica o terroir onde são originários. Fiquei muito surpreso porque a Jancis Robinson escolheu o Bojador Vinho de Talha como um dos dez vinhos portugueses nestes dez anos”.

A Wine Lovers é a representante da vinícola no Brasil e você pode conhecer este vinho incrível sem sair de casa! O Bojador Vinho de Talha Tinto, da vinícola portuguesa, Espaço Rural, possui a combinação das uvas Trincadeira, Moreto e Tinta Grossa.

Projeto pessoal do enólogo Pedro Ribeiro, vinho de talha
Projeto pessoal do enólogo Pedro Ribeiro, vinho de talha

A produção                         

Segundo Ribeiro, tentamos reproduzir os métodos ancestrais de fazer vinho, por isso que usamos as talhas, também conhecida como ânforas, que são os vinhos mais aclamados feitos em talhas de barro, com cerca de 1000 litros. É uma técnica trazida para o sul de Portugal pelos romanos há dois mil anos e que agricultores locais preservaram até hoje. Esses vinhos são muito importantes para o Projeto do Espaço Rural.

Este vinho de talha tem uma certificação específica DOC Alentejo Vinho de Talha, que precisa seguir uma série de regras como, por exemplo, ser fermentado em contato com as cascas e ter que ficar na talha pelo menos até o dia 11 de novembro, Dia de São Martinho. Em Vidigueira estão organizando o Ânfora Wine Day quando as talhas são abertas ao público num evento com gastronomia local e muitos interessados nesse tipo de vinho que traz a expressão mais natural da uva.

Ânforas são utilizadas há mais de dois mil anos pelos romanos
Ânforas são utilizadas há mais de dois mil anos pelos romanos

De acordo com Ribeiro, utilizamos uma enologia de mínima intervenção e de respeito máximo pelo terroir. No geral, a produção desse vinho é feito em um processo muito simples que exige muitos cuidados porque é um vinho muito sensível. Colocamos a uva dentro da talha, fazemos uma maceração que empurra as massas durante a fermentação alcoólica, isso demora umas duas a três semanas. No final da fermentação alcoólica e da maloláctica não são produzidos mais gases. Começa tudo a sedimentar, os galhos, o engaço, as cascas vão para o fundo. Há três camadas, uma no fundo com o engaço, outra camada com a casca da uva e depois o vinho.

No topo da talha não tem tampa, então para proteger o vinho da oxidação colocam uma camada de azeite, que não se mistura com o vinho, assim ele funciona como uma espécie de rolha de proteção ao próprio vinho. Este é um método ancestral da região. Depois de seis meses, colocam uma torneirinha no fundo da talha e ao ser aberta o vinho passa por todas essas camadas em uma filtragem natural. Além disso, não existe qualquer controle de temperatura e a interferência no processo é mínima.

Depois, o vinho vai para um tanque de aço inox para estabilizar alguma matéria em suspensão e finalmente para a garrafa. Adiciona-se apenas uma quantidade de CO2 para a estabilização do vinho na época do engarrafamento.

É um processo bonito porque tem essa história para contar. Costumo dizer que as pessoas estão voltando às suas raízes e que comercialmente é algo recente e vai ficar porque nos permite fazer vinhos com mais pureza de fruto e reflitam o terroir que ele tem. O mercado foi mudando, pedindo mais autenticidade e vinhos mais orgânicos e naturais.

Pedro Ribeiro mistura o mosto dentro da enorme talha de barro
Pedro Ribeiro mistura o mosto dentro da enorme talha de barro

Lista dos 10 anos, 10 vinhos portugueses:

  • Soalheiro Primeiras Vinhas 2016, branco, Vinho Verde;
  • Quinta dos Roques 2007, branco, Dão;
  • Luís Pato Vinha Barrosa 2005, tinto, Bairrada;
  • Barca Velha 1999, tinto, Douro Superior;
  • Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa 2005, tinto, Douro;
  • Niepoort Batuta 2007, tinto, Douro;
  • Poeira 2011, Jorge Moreira, tinto, Douro;
  • Bojador Vinho de Talha 2015, Espaço Rural, tinto, Alentejo;
  • Barbeito Ribeira Real Tinta Negra, Lote 1, 20 anos, Vinho Madeira;
  • Graham´s Single Harvest Tawny Port 1972, Vinho do Porto.

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