Imagine que você pudesse fazer uma viagem agora para qualquer lugar que quisesse. Maravilha! Agora, suponha que escolheu a França, mais precisamente no sul do país, certo? Em seguida pense que pode avistar o mar Mediterrâneo à frente e os Alpes e o Maciço Central ao fundo. Perfeito! Em um relance rápido vai perceber que ao seu redor encontrará por todo lugar vinhedos. Essa é a visão de uma das regiões francesas que produzem os vinhos mais atraentes: Languedoc.
Primeiro enigma: por que 1/3 do total de vinhedos da França localiza-se em Languedoc?
Para explicar isso preciso fazer um convite. Quer passear comigo pelo magnífico terroir do sul da França? Se a sua resposta foi não, infelizmente vai ficar sem conhecer mais sobre a história, as características únicas e principais classificações utilizadas para a produção de vinhos extremamente elegantes. Se optou pelo sim, vamos continuar a nossa excursão de onde paramos.
Sinta o clima do mediterrâneo, com verões quentes e secos, invernos chuvosos. A temperatura média é de 22o C, com picos de 30o C ao longo do dia na costa. Seus cabelos recebem os ventos do norte chamados oers e tramontine e junto com o mistral proporcionam uma sensação de calor intenso somente abrandada pela brisa marinha do oceano Atlântico.
Sob seu pés podem variar solos áridos e aluviais se estiver na planície costeira ou rochosos e calcários nas colinas entremeadas de pinheiros e arbustos. A altitude fica em torno de 500m acima do nível do mar. Existe uma intensidade luminosa que ofusca a vista devido ao sol brilhar forte num céu azul sem nuvens.
As plantações são na maioria de uvas tintas como carignan, cinsault, grenache, mourvédre e syrah. Mas, pode-se encontrar também as uvas brancas:, chardonnay, grenache blanc, macabeu, marsanne, roussanne e rolle. O vinho é feito da fermentação de uvas finas da espécie vitis vinífera, portanto, se os vinhedos são bem cuidados, não possuem doenças, são minimamente irrigados, conseguem produzir frutos extremamente potentes e com uma personalidade única. Isso é conseguido com o terroir onde eles se encontram, ou seja, graças à combinação de diversos fatores, entre eles, o solo, o clima, o relevo, o tipo de agricultura, as variedades de uvas, a idade das vinhas, o tipo de colheita, a seleção rigorosa dos frutos e claro, o trabalho humano.
Segundo enigma: qual a diferença dos vinhos franceses em comparação aos demais países produtores?
Agora vamos ter que fazer uma viagem mais longa, ou melhor, teremos que voltar um pouco na história! Então, pense que entrou em uma máquina do tempo e regressou até a década de 1970 quando os agricultores da região passaram a utilizar métodos modernos para vinificar seus vinhos e reconheceram que a bebida poderia ter mais qualidade, mais riqueza de sabor, aroma e visual.
A Appellation d’Origine Contrôllé (AOC), ou seja, a DOC francesa, que significa a determinação de origem controlada, é a classificação mais alta. Garante que o vinho foi produzido em área específica de acordo com as leis locais que englobam quais cepas devem ser plantadas, os limites da denominação, tipos de vinhos, como conduzir as vinhas, datas para a colheita, qual o nível mínimo de álcool, volume a ser produzido, etc.
Outra classificação para vinhos de qualidade, menos utilizada hoje em dia, é a Vin Délimité de Qualité Supérieure (VDQS) que os posicionava em uma fase de transição até conseguirem o status de AOC. Mas, está praticamente em extinção.
Com vinhos tintos mais encorpados, complexos e cheios de personalidade nasceu a necessidade de flexibilizar as leis rigorosas das AOCs. Por isso, o termo Vin de Pays d’OC (VdP) permitiu o cultivo de uvas de regiões diferentes como cabernet sauvignon, chardonnay e merlot. Esses vinhos oferecem excelente custo-benefício e recebem essa categoria regional. Assim, a região de Languedoc tornou-se a mais importante produtora de VdP do país, com 80% do total. Os produtores podem utilizar uvas nativas e internacionais e essa denominação confere maior reconhecimento. O rótulo pode mencionar uma ou duas cepas e até a safra.
Outra categoria é chamada de Vin de Table (VdT) ou vinho de mesa, mas essa rotulação pode conter um dos melhores vinhos europeus e a chave está em diferenciar a qualidade dos vinhos especiais, pois tendem a ser mais complexos do que os vinhos básicos. Teoricamente seria a categoria dos vinhos de entrada, mais acessíveis e facilmente encontrados pelos consumidores em outros países. Não tem tanto controle, sem exigência de safra e o rótulo pode indicar as uvas, diferente do que é exigido nas outras classificações.
Portanto, esse cuidado com o local, as uvas, o cultivo e a produção influenciam muito no produto final. A tradição aliada ao extremo rigor da legislação atestam a preferência do consumidor mundial em tomar vinhos franceses, de acordo com os dados da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), visto que o país é o terceiro líder do mercado em exportação da bebida em volume com 14 milhões de hectolitros e o primeiro em exportação da bebida em valores monetários com 9,3 bilhões de Euros (2018).
Terceiro enigma: por que 80% da produção da região de Languedoc é de uvas tintas?
Os vinhos tintos são a maioria na região, pois a lei que rege as AOCs é rígida permitindo o uso ou a mistura de apenas cinco cepas clássicas do sul do país: syrah, mourvédre, carignan, grenache e cinsault. Cada uma com suas características especiais.
Produtores conseguiram ao longo dos anos uma verdadeira revolução na qualidade de cultivo, colheita, processo de vinificação e modernas técnicas de envelhecimento. Os estilos variam, mas os vinhos apresentam quase sempre concentração, vigor e toques herbáceos.
Devido à região estar na costa mediterrânea, ser imensa e diversificada no sopé das colinas, as vinhas ficam plantadas em um local mais quente, produzindo uvas mais ricas e com sabores complexos. Isso resulta em vinhos encorpados e ousados.
Languedoc está localizada quase que unicamente no interior da França, com sua colcha de retalhos de vinhas e sua vasta gama de vinhos. Depois de grandes avanços nos últimos 30 anos, está prestes a se tornar uma das principais regiões vinícolas do mundo. Possui três denominações principais – Corbières, Coteaux du Languedoc e Minervois – que representam três quartos das vendas.
Estatísticas de Languedoc (AOC)
Área de vinhedos: 37.855 ha
Produção: 13.270.000 hl
Tintos: 80%
Brancos: 13%
Rosés: 7%
Dados de 2008 – CIVL
As principais variedades de uvas são oriundas de Bordeaux e do Mediterrâneo. As uvas tintas principais são: carignan, que encontra o seu terroir ideal e dá aos vinhos estrutura, aspecto e cor; grenache que fornece calor e sabores cheios, enquanto a syrah proporciona os taninos. Já a mourvèdre produz vinhos elegantes e adequados para o envelhecimento. Cinsault é usada principalmente para fazer rosés. Os vinhos tintos de Languedoc tem geralmente uma bela cor granada. Eles são poderosos, robustos e cada vez mais elegantes.
Quarto enigma: onde encontrar vinhos de Languedoc com excelente custo-benefício?
Esse é o mais fácil de solucionar, pois a Wine Lovers: traz para os consumidores brasileiros vinhos de Languedoc para que sua experiência seja completa! Voltando para o nosso tempo atual é hora de conhecer quais vinhos estão disponíveis para que você possa desfrutar dos sabores desta região sem sair de casa!
Da vinícola Delta Domaines, o vinho Domaine des Pourthié Cabernet Franc, é feito com 100% cabernet franc. Possui cor vermelha escuro que remete a força dos seus aromas de frutas negras e estrutura tânica. Ideal com aves de caça, carnes vermelhas assadas, queijos semiduros e duros.
O vinho Domaine des Pourthié Syrah Rosé, é feito com 100% syrah. De cor persistente de pétalas de rosa, claro e brilhante. Nariz intenso a frutos vermelhos, onde predominam morangos e framboesas. Na boca é cheio de elegância, amplo, fresco e equilibrado por um toque de vivacidade. Bom corpo, com taninos discretos e final saboroso. Combina bem com pratos de carnes, moussaka, ratatouille, frango assado, queijos semiduros e como aperitivo.
O vinho Domaine des Pourthié Viognier, é feito com 100% viognier. Apresenta cor ouro pálida, rica e poderosa com aromas de pêra, limão e damasco. Corpo leve e médio, com alguma untuosidade, leve acidez, redondo, macio e fresco com uma bela persistência aromática de frutas. Excelente como aperitivo ou com vegetais crus, saladas, peixes grelhados ou cozidos, frutos do mar, carnes brancas e queijos frescos.
Da vinícola Domaine Louis Max, que possui vinhedo em Languedoc também, apesar de estar localizada na Borgonha, a sugestão é o vinho Pinot Noir Les Terres Froides, com 100% pinot noir. Lindo manto vermelho rubi. Aromas de pequenos frutos negros e vermelhos e notas de pimenta. É um vinho elegante, delicado e frutado. Complementa bem pratos com carnes vermelhas, queijos e culinária tailandesa.