Muitos de nós conhecemos bem os vinhos de variedade única do Chile: excelente custo-benefício. Mas durante os últimos 10 anos, os vinhos chegaram a um nível mais alto. Os vermelhos estão ganhando profundidade e intensidade, os brancos, delicadeza e frescor. Seus vinicultores não são mais apenas produtores de bons vinhos; agora alguns também produzem os melhores vinhos chilenos.
Como isso aconteceu é que será explicado neste artigo. Após centenas de anos, aproximadamente mais de 500, o país adquiriu experiência vinícola considerável. Seu território é estreito, como uma faixa alongada, que é cercado pela Cordilheira dos Andes, a leste, e pelo Oceano Pacífico, a oeste. Isso, com certeza, contribuiu, e muito, com as características distintas do seu terroir.
Grande parte dos vinhedos estão localizados no Vale Central, entre os Andes e a serra costeira, em grandes vales de rios afluentes que deságuam no mar. A área de cultivo é de 127.000 ha, com uma produção de 8,2 milhões de hl, distribuídos entre vinhos tintos (70%) e brancos (30%), segundo dados do Ministério da Agricultura e da Organização Internacional de Vinhos (OIV), www.oiv.int/.
Assim, é possível cultivar as uvas em 1.300 km desde o deserto do Atacama, no norte, até o Vale do Malleco, ao sul. O solo é de pedra calcária e argila com silte aluvial perto dos rios. O clima é marítimo e variado ao extremo,portanto, apresenta calor intenso no norte e chuva no sul. Próximo das montanhas, a temperatura é bem baixa à noite. Devido a todas essas peculiaridades, o vinho chileno tem conquistado tantos apaixonados, além de muitos prêmios.
História da vinicultura chilena
A partir do século XIX, as vinhas conquistaram o gosto do público graças à invasão da cultura francesa, que inaugurou, por assim dizer, uma indústria de vinhos de qualidade. Apesar, dos vinhedos terem sido plantados pelos colonizadores espanhóis, no século XVI, na América do Sul a técnica moderna francesa e o entusiasmo de tudo o que vinha da França proporcionou a contratação de vinicultores franceses e de enxertos europeus, antes da praga filoxera acabar com as vinhas europeias.
Agora que vem a dádiva da localização do território chileno! O país está isolado e fica praticamente escondido atrás dos Andes e entre um deserto e gelo na Antártida. Por isso, nunca foi atacado pela praga e suas vinhas da Europa sadias continuam a ser as mais utilizadas em seus vinhedos, assim nascem os melhores vinhos chilenos, protegidos pelo belíssimo relevo e clima do Pacífico, com a influência direta da corrente Humboldt da Antártida.
Cepas mais cultivadas
A cepa tinta cabernet sauvignon é a mais importante do país. Nos últimos anos tem dobrado a sua área de extensão nos vales de Casablanca, Maipo, Aconcágua e Maule. A cepa local país vem perdendo terreno ano após ano, mas continua no pario como a segunda mais plantada. A cepa merlot ocupa a terceira posição nesse ranking e a chardonnay pode ser considerada como a quarta mais cultivada.
Os melhores vinhos chilenos são produzidos com essas uvas, além da carménère, sua uva ícone, seu amadurecimento é constante e as tintas possuem sabor de frutas vermelhas maduras, como framboesas, cerejas e morangos. Cepas de pinot noir, cabernet franc, syrah e petit verdot também são muito plantadas e estão se mostrando promissoras nesta região.
Cabernet sauvignon
A uva branca sauvignon blanc combinada com a uva tinta cabernet franc forma uma das mais conhecidas e difundidas no mundo, a cabernet sauvignon! Uma uva que tem grande facilidade de adaptação a diferentes climas e solos, por isto cultivada em praticamente todas as principais regiões vinícolas, entre elas Bordeaux (França). Pequena, cor intensa, de casca muito espessa, com grande quantidade de material sólido e escuro, além de taninos em abundância (exceto no Chile e África do Sul, onde costuma ser menos tânica). Nos tintos clássicos, pode ser combinada com a cabernet franc e merlot.
Merlot
Tem grande importância nos vinhos produzidos em Bordeaux (Pomerol e St. Émillion) e em varietais de outras regiões, tais como a Califórnia, o Chile e a Austrália. Antigamente, usada para acertar os vinhos feitos com a cabernet sauvignon tinha um papel de coadjuvante no processo de fabricação dos vinhos. Hoje brilha como uma uva elegante, sutil, de tamanho médio, pele fina e de cor preta azulada. Cepa que produz vinhos tintos sedosos e com nuances de ameixa que podem duram décadas. No Chile, os vinhos ganham características de leve e fáceis de tomar.
Chardonnay
Mais famosa das uvas brancas, nascida na Borgonha (França). É a única responsável por todos os vinhos finos desta região. Foi espalhada pelo mundo e atualmente encontra-se na África do Sul, Argentina, Chile, Estados Unidos, Nova Zelândia, etc. Apesar da sua fama, podem existir diferenças entre os vinhos produzidos com ela. Mesmo assim, ter vinhos desta cepa na adega é sinônimo de qualidade. Produz um vinho branco encorpado, seco e intenso. Devido ao clima mais frio surgem sabores de frutas verdes e um toque mineral por causa do solo.
Carménère
Uma curiosidade foi a identificação da cepa carménère, muitas vezes confundida com a merlot. Somente em 1994, testes de DNA afirmaram que essa uva era derivada de enxertos de vinhas de grand vidure trazidas de Bordeaux, no final do século XIX. Infelizmente, quase foi dizimada na Europa, no entanto, no Chile, esta descendente prosperou e produz vinhos com sabor de frutas silvestres, sabor profundo, com toques de chocolate e taninos macios e sedosos. Essa cepa ocupa aproximadamente 7% da área cultivada e tornou-se a uva símbolo do país.
Regiões vinicultoras
Com o investimento estrangeiro e mercado de exportações aquecido, o país conseguiu um crescimento no setor tanto na produção quanto na comercialização de seus vinhos. É atualmente um dos maiores produtores do mundo e aumentou de 3,4 mhl (2017) para 12,9 mhl (2018). Vamos conhecer as principais áreas vinícolas que se encontram os vinhedos que produzem os melhores vinhos chilenos.
Vale do Aconcágua
Tem uma área de clima quente e seco, que favorece vinhedos de cepas tintas, localizada ao lado do rio Aconcágua, entre os Andes e o Pacífico. Local propício para a plantação, pois recebe a brisa marítima que refresca os dias muitos quentes e torna as noites mais frias para manter o amadurecimento mais lento da uva, transformando-se em vinhos frutados, de sabor concentrado e cor intensa. Nossa sugestão é da vinícola Vinã von Siebenthal que produz o vinho Carabantes Syrah/Premium, que tem 85% syrah e 15% cabernet sauvignon. No nariz, aromas intensos de violeta e alecrim. Na boca, elegante com taninos finos. De forte personalidade. Harmoniza bem com carnes vermelhas. (Robert Park: 91)
Viña von Siebenthal
Por mais de duas décadas, Mauro von Siebenthal, um advogado suíço e amante do vinho, tinha um sonho. Em 1998, com o apoio financeiro de quatro amigos, a Viña von Siebenthal conseguiu finalmente tornou-se realidade. A filosofia harmoniosa da vinícola resultou na criação de um vinho extremamente elegante, que expressa eloquentemente o terreno e a característica extraordinária do Aconcagua Valley. Este é um local especial e uma das áreas mais exclusivas e prestigiadas do Chile, para a produção de castas vermelhas e brancas de Bordeaux.
Vale de Casablanca
Está localizado à oeste da serra costeira e também possui o efeito das brisas do Pacífico. É considerado uma das melhores regiões para o cultivo de uvas em clima frio do país. Os vinhos apresentam sabor fresco, vibrante. Como exemplo, temos da vinícola William Cole Vineyards, o vinho W of Paine Winemaker’s Collection Blend, que possui 50% cabernet sauvignon, 45% carménère e 5% carignan. No nariz tem notas de frutas vermelhas e negras, picância, mentol e toque de café, por passagem em carvalho. Na boca é suculento, volumoso e persistente. Taninos suaves e elegantes. Vai muito bem com guisados, rosbife e queijos. (Descorchados 2017: 93)
William Cole Vineyards
O Vale de Casablanca, no Chile, é conhecido por sua beleza natural. Seus montes íngremes são vistos em todas as direções, e entre eles, os campos férteis, com pequenas aldeias que espreitam para fora aqui e ali. Provavelmente os lugares mais bonitos do vale são as vinhas. Alinhadas linha por linha meticulosamente cultivadas com sauvignon blanc, chardonnay e pinot noir. Produzir os melhores vinhos do mundo usando métodos agrícolas, tecnologia de ponta e processos, comercializar vinhos, tanto no mercado interno quanto no internacional, ser bem-sucedido criando uma tradição com seus parceiros: clientes, fornecedores e especialmente os funcionários, e trabalhar em um espírito de cooperação na sustentabilidade ambiental são as missões da vinícola.
Vale de Maule
Localizada no Vale Central, relevo de planícies vastas e baixas colinas. Com alta pluviosidade e grande importância para a viticultura. Apesar de um terço de seu terreno ser ainda dedicado à plantação da cepa local país, muitas uvas se desenvolvem bem no solo aluvial fértil. Sugerimos da vinícola InVina, o vinho Tricky Rabbit Cabernet Sauvignon/Syrah Reserva, que tem 60% cabernet sauvignon e 40% syrah. No nariz, aromas de frutas vermelhas, acidez surpreendente. Frescura, tons de tabaco persistente. Na boca, sabor de chocolate delicado. Harmoniza com diferentes cortes de carne vermelha, queijo maduro e massas. (Medalha de Ouro 2014 no New York International Wine Competition)
InVina
InVina é propriedade da família Huber, com mais de 15 anos de experiência na viticultura chilena. Vieram para o Chile em 1999 como parceiros fundadores minoritários da VIA Wines. Em 2007, decidiram apostar na qualidade do mercado de vinhos e fundaram a InVina, uma empresa 100% familiar, que se concentrou em investir e desenvolver vinhedos no Vale do Maule. A InVina continua acreditando que a chave para o sucesso do Chile é baseada na qualidade e diversidade de suas uvas, provenientes de quatro microclimas diferentes na região.